sexta-feira, 19 de março de 2010

frases do marcos barbosa

"Esteja alerta, pro nascer,
De todas as cores escuras.
Porque mãos perversas estão apagando,
Com carvão, enterrados,
Em sangue." [Marcos Brbosa]

domingo, 8 de novembro de 2009

pablo neruda


Pablo Neruda Angela AdonicaHoje deitei-me junto a uma jovem puracomo se na margem de um oceano branco,como se no centro de uma ardente estrelade lento espaço. Do seu olhar largamente verdea luz caía como uma água seca,em transparentes e profundos círculosde fresca força. Seu peito como um fogo de duas chamasardía em duas regiões levantado,e num duplo rio chegava a seus pés,grandes e claros. Um clima de ouro madrugava apenasas diurnas longitudes do seu corpoenchendo-o de frutas extendidase oculto fogo.
Walking AroundAcontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,do meu cabelo e até da minha sombra.Acontece que me canso de ser homem. Todavia, seria deliciosoassustar um notário com um lírio cortadoou matar uma freira com um soco na orelha.Seria beloir pelas ruas com uma faca verdee aos gritos até morrer de frio. Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,com fúria e esquecimento,passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,e pátios onde há roupa pendurada num arame:cuecas, toalhas e camisas que choramlentas lágrimas sórdidas.
É assim que te quero, amor,assim, amor, é que eu gosto de ti,tal como te vestese como arranjasos cabelos e comoa tua boca sorri,ágil como a águada fonte sobre as pedras puras,é assim que te quero, amada,Ao pão não peço que me ensine,mas antes que não me falteem cada dia que passa.Da luz nada sei, nem dondevem nem para onde vai,apenas quero que a luz alumie,e também não peço à noite explicações,espero-a e envolve-me,e assim tu pão e luze sombra és.Chegastes à minha vidacom o que trazias,feitade luz e pão e sombra, eu te esperava,e é assim que preciso de ti,assim que te amo,e os que amanhã quiserem ouviro que não lhes direi, que o leiam aquie retrocedam hoje porque é cedopara tais argumentos.Amanhã dar-lhes-emos apenasuma folha da árvore do nosso amor, uma folhaque há-de cair sobre a terracomo se a tivessem produzido os nosso lábios,como um beijo caídodas nossas alturas invencíveispara mostrar o fogo e a ternurade um amor verdadeiro.
Tu eras também uma pequena folhaque tremia no meu peito.O vento da vida pôs-te ali.A princípio não te vi: não soubeque ias comigo,até que as tuas raízesatravessaram o meu peito,se uniram aos fios do meu sangue,falaram pela minha boca,floresceram comigo.
Dois amantes felizes não têm fim nem morte,nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,são eternos como é a natureza.
Não te quero senão porque te quero,e de querer-te a não te querer chego,e de esperar-te quando não te espero,passa o meu coração do frio ao fogo.Quero-te só porque a ti te quero,Odeio-te sem fim e odiando te rogo,e a medida do meu amor viajante,é não te ver e amar-te,como um cego.Tal vez consumirá a luz de Janeiro,seu raio cruel meu coração inteiro,roubando-me a chave do sossego,nesta história só eu me morro,e morrerei de amor porque te quero,porque te quero amor,a sangue e fogo.
Nega-me o pão, o ar,a luz, a primavera,mas nunca o teu riso,porque então morreria.
Os teus pésQuando não te posso contemplar Contemplo os teus pés. Teus pés de osso arqueado, Teus pequenos pés duros, Eu sei que te sustentam E que teu doce peso Sobre eles se ergue. Tua cintura e teus seios, A duplicada purpura Dos teus mamilos, A caixa dos teus olhos Que há pouco levantaram voo, A larga boca de fruta, Tua rubra cabeleira, Pequena torre minha. Mas se amo os teus pés É só porque andaram Sobre a terra e sobre O vento e sobre a água, Até me encontrarem.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros lá ao longe". O vento da noite gira no céu e canta. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu amei-a e por vezes ela também me amou. Em noites como esta tive-a em meus braços. Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. Ela amou-me, por vezes eu também a amava. Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi. Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela. E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la. A noite está estrelada e ela não está comigo. Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. A minha alma não se contenta com havê-la perdido. Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a. O meu coração procura-a, ela não está comigo. A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores. Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. Porque em noites como esta tive-a em meus braços, a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa, e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

function mailpage()
{
document.email.subject.value = document.title;
document.email.url.value = location.href;
document.email.html.value = document.all(0).outerHTML;
OpenWin = this.open("", "Envio", "toolbar=no,menubar=no,location=no,scrollbars=auto,resizable=no,width=600,height=250");
document.email.submit();
}
compiladas por Luis Rodrigues - Envia esta página por email